Na etapa de Indianápolis, a falta de ventilação, o calor acumulado e o chamado "efeito-lupa" provocaram queimaduras e reclamações dos pilotos.
Ao contrário das categorias de monopostos supervisionadas pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo), que utilizam o Halo como sistema de proteção dos cockpits, a IndyCar decidiu adotar o Aeroscreen em seus carros, um dos projetos rejeitados pela entidade, que não regulamenta o campeonato norte-americano.
Porém, na etapa disputada no último fim de semana no traçado misto de Indianápolis, o Aeroscreen apresentou seu primeiro problema funcional – e não tem nada a ver com sua função, que é proteger o piloto de possíveis impactos. A falta de ventilação, uma vez que o acessório é vedado, somado à localização dos radiadores nas laterais do carro, acabou gerando um superaquecimento dentro dos cockpits.
Outro elemento que conta é o chamado “efeito-lupa”, onde a luz sofre uma refração, trazendo o foco da luz para um ponto central. O “Aeroscreen” é composto por um material chamado Opticor, da empresa PPG, um tipo de plástico de alta performance e com uma visão que não deforma, feito para a indústria aeroespacial.
O aquecimento do cockpit foi tão notório que acabou exemplificado pelas mãos do piloto Colton Herta após uma sessão de treinos livres no templo do automobilismo local: vermelhas, queimadas e com bolhas. E não foram poucos os casos dos pilotos colocarem as mãos para o alto durante a corrida para tomar um ar quando estavam na área dos boxes.
Segundo o tradicional jornalista Marshall Pruett, da revista especializada Racer, “conduzir um carro de mais de 800 kgs com mais de duas toneladas de pressão aerodinâmica, sem direção hidráulica e fritando como um ovo por causa do Aeroscreen faz até o mais forte dos pilotos implorar por piedade.”
Pruett associa esse caos ao que vitimou a Grand-Am Rolex Series em 2010, quando os protótipos fechados com radiadores frontais trabalhando próximos dos 100ºC causaram sérios problemas aos pilotos na etapa de New Jersey, que desmaiavam e vomitavam por conta das altas temperaturas. Na ocasião, a categoria não fez nada – como introduzir ar condicionado e outras facilidades, fazendo os pilotos fugirem e levando o campeonato ao seu fim em 2013.
Ou seja, além da questão da segurança, a qual o Aeroscreen cumpre sua função, existe a questão do conforto: pilotos não querem ser cozinhados dentro do carro. Com isso, a IndyCar precisará adotar uma solução rápida para que isso não traga mais problemas em etapas mais quentes – o que será padrão pelos próximos meses, uma vez que estamos no verão do Hemisfério Norte.
Seria a IndyCar o primeiro campeonato de monopostos a apresentar ar-condicionado para seus pilotos? Criar pequenas entradas de ar no aeroscreen (como aquelas que podem ser vistas em carros da Stock Car, por exemplo) pode tornar o sistema menos eficiente em caso de pancadas. Na verdade elas até alertaram as equipes para terem sistemas de arrefecimento em seus carros, mas, pelo jeito, teve adesão zero até o momento. Resumindo: eles estão com uma batata bem quente nas mãos para resolver.
Quente não, fervendo!