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Amadeu Rodrigues: um dos maiores (se não o maior) símbolos de amor ao esporte e à vida no automobilismo brasileiro

Essa é imagem que todos vão guardar dele: um amante dos animais, que deu sua vida ao esporte, fazendo da equipe uma extensão real de sua própria família, que ele tanto amava, onde todos se envolviam.

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Pelo pouco que pudemos perceber desde que a notícia começou a correr pelos grupos de Whatsapp e infelizmente confirmada horas depois, Amadeu Rodrigues era praticamente uma unanimidade.

Das homenagens, os elogios que mais de destacaram foram o caráter, a empatia, o respeito e o exemplo de que existe, sim, uma família perfeita. Esses adjetivos estiveram praticamente em todas as postagens e declarações feitas por amigos, colegas e profissionais da área.

Claro que ele teve seus desentendimentos, como no ano passado envolvendo o pai de um de seus pilotos, mas em nenhum momento foi questionada a idoneidade de Amadeu. Pelo contrário, a perseverança dele foi sua maior marca.

Campeão e bota dos bons na Divisão 3 nos anos 70, correu na Copa Shell e lá ele nasceu de novo pela primeira vez após sobreviver a um dos maiores acidentes envolvendo incêndio do esporte nacional. Passou por 40 cirurgias, quase um ano internado, e nasceu de novo.

Em 2001, estreou na Stock Car como equipe e, de lá para cá, vem batalhando incansavelmente para fazer de sua equipe vencedora. Cuidava de tudo pessoalmente e, como vocês puderam ver, até a van da equipe ele fazia questão de dirigir após um longo dia de trabalho.

Sempre acompanhado da fiel esposa, Dona Cibele, amada por todos, que ajudava até quem não conhecia ou não precisava. Nos primeiros testes do novo Cruze, que a Hot Car foi responsável por montar, ela fez questão de montar uma mesinha extra para eu e a turma de vídeo da categoria trabalharem. E eu tenho certeza absoluta que só eles mesmo teriam esse tipo de atitude.

Isso tudo com um sorriso no rosto. Os dois. Ou melhor, os quatro, pois as filhas Juliana e Bárbara, sempre que podiam, estavam lá, agarradas e ajudando os pais. Nem parecia que Amadeu estava enfrentando (e vencendo) uma longa luta pelo câncer. Nesse teste, vi a Cibele borrifar água termal no rosto dele e perguntei o motivo. Era que o câncer e o tratamento provocavam uma irritação enorme na pele dele, se não me falhe a memória.

Pessoalmente, um momento que eu presenciei muito me marcou. Era 2011, Jacarepaguá. Acompanhava a corrida da “casinha” da Hot Car, que ficava entre os boxes e a reta, em um grande gramado. Foi quando vimos um carro pegando fogo. Era o Tuka Rocha.

Porém, da nossa posição, a gente não tinha visto que ele já tinha pulado do carro – estavamos no fim dos boxes, com um mundo de gente e casinhas na frente. Foi um choque. Sabendo do que Amadeu tinha vivido em 1989, não sei o motivo, eu ficava olhando pro carro em chamas vindo e pra ele. Sem dizer uma palavra, ele pegou um dos extintores do pit wall e foi em direção ao carro.

O resgate chegou antes dele já e nesse momento tanto ele quanto eu já tinhamos notado que o Tuka tinha pulado. E ele voltou, sereno, pronto para a continuidade da corrida. Passei o resto do dia imaginando o filme que passou na cabeça dele naquele momento. Sequer conversamos sobre isso, tanto na época quanto depois.

E, quanto mais a gente conhecia a família Rodrigues, mais a gente torcia para a Hot Car evoluir. Pois todo mundo via o esforço deles, com orçamento honesto e trabalho duro. Sem fazer média: ele merecia ter vencido muito mais vezes, mas Deus deu a chance de ele sentir esse gostinho uma vez com Raphael Matos na corrida 2 em Santa Cruz do Sul.

Por sorte, Amadeu não era só Stock Car. Era Endurance, foi Mercedes-Benz Challenge, e topou vários desafios no automobilismo. No Mercedes-Benz Challenge que a equipe teve seu ponto alto, sendo campeã e vencendo regularmente. A foto dele com vários troféus na premiação de 2018 (que coloco abaixo) é simbólica e por sorte seu fotógrafo de longa data Vanderley Soares registrou este momento.

E é essa imagem que todos vão guardar dele. Um amante dos animais, que deu sua vida ao esporte, fazendo da equipe uma extensão real de sua família, onde todos se envolviam. E nossa maior torcida: que a Hot Car continue existindo, pois a Hot Car não era só a família Rodrigues, mas uma família que contava mais de uma dúzia de outras famílias integradas por conta de seus funcionários. O maior legado deles não é os carros nem as corridas, mas o amor que ele exalava e sua entrega em tudo o que fazia.

Adorava quando podia desfrutar de momentos descontraídos e divertidos com eles, como na premiação do ano passado, onde foi a última vez que pude ver Amadeu, Cibele, Ju e Babi juntos (a pandemia impediu essa reunião na pista em 2020) e fiz questão de dizer pela enésima vez que eles eram minha família preferida.

Por tudo o que já tinha acontecido com ele, a gente achava que Amadeu tinha sete vidas. Erramos por quatro. Fica o legado e a saudade.

PS 1: se eu tivesse a chance de ter falado com ele antes disso tudo, mandaria ele descansar e sair no dia seguinte. Mas não sei se adiantaria. Amadeu é Amadeu, teimoso e dedicado 24h por dia.

PS 2: será que ele tinha noção do quanto ele era amado? Tomara que sim.

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