Uma das marcas mais vitoriosas da Fórmula 1 está de volta ao grid. Depois de uma ausência de quase 19 anos (sua última prova foi o GP do Brasil de 2004), a Ford anunciou seu retorno em uma parceria com a Red Bull.
A data para estrear está definida: 2026. A equipe também: Alpha Tauri. O time principal provavelmente só passará a ter os Ford quando tudo tiver bem testado e aprovado pela equipe-irmã, que correrá com os propulsores norte-americanos até 2030.
Para os fãs acima dos 40 anos, a volta da Ford traz uma enorme carga de tradição. Quarta marca com mais presença em provas (523, contra 1054 da Ferrari, 701 da Renault e 541 da Mercedes), a história da marca e a da F1 se misturaram na década de 60 e 70, principalmente, quando quase todo mundo usava os inquebráveis e rápidos Cosworth V8.
A Ford foi protagonista na era romântica (e perigosa) da F1, dos anos 60 aos 90.
No entanto, nos anos 80 e 90, a Ford passou a ser mais uma coadjuvante e fornecedora de times pequenos, tendo um lampejo de desempenho, em 94, com Michael Schumacher sendo campeão usando o motor Zetec-R (sem contar o que Ayrton Senna fez no ano anterior com um propulsor inferior ao do alemão).
No fim dos anos 90, o bom trabalho de Jackie Stewart com seu time, utilizando motores Ford (e dando à marca sua última vitória, no GP da Europa de 99), os norte-americanos compraram a equipe e a rebatizaram de Jaguar, trazendo o belo carro verde esmeralda ao grid.
Emerson, Pace, Piquet e Senna venceram GPs usando Ford; Emerson e Nelson foram campeões de Ford.
No entanto, o que o carro tinha de bonito, tinha de ordinário. A equipe era uma bagunça administrativa e só e teve gente como Bobby Rahal e Niki Lauda no comando (o austríaco inclusive passou vergonha na época, dizendo que qualquer macaco guiaria um F1 moderno e não conseguindo dar uma volta limpa quando assumiu o volante).
Isso se refletiu na pista e a Ford saiu tanto como equipe quanto como fornecedora – na época, ela abastecia a Jordan. Essa primeira fase rendeu o expressivo número de 176 vitórias – ela saiu da F1 como líder desta lista, mas atualmente é a terceira no ranking, perdendo para Ferrari, 243, e Mercedes, 213.
A última aventura da Ford na F1 foi em 2004 com a Jaguar.
Outros números importantes da Ford: 523 corridas (se juntarmos todos os carros, dá quase 4.500 GPs!), 139 poles, 159 voltas mais rápida, 289 pódios (533 se juntarmos os lugares do pódio), 200 primeiras filas (301 no total de carros) e o maior de todos os números: 1.173.551 km percorridos! A Ferrari, marca mais próxima tem 952 mil.
A Ford retornará no mesmo ano em que a Audi também anunciou seu retorno em parceria com a Sauber. Isso traz para a F1 uma grande lufada de ar fresco com o envolvimento de grandes marcas.
No entanto, caberá aos responsáveils pelo regulamento tomarem muito cuidado para os custos não subirem e para a categoria não sofrer quando essas marcas saírem (sabemos muito bem que esse movimento é cíclico e a temporada de 2009, quando a F1 perdeu Toyota, Honda e Renault praticamente numa tacada só, é um ótimo exemplo disso).
PARCERIA VEM EM BOA HORA
A Red Bull, desde que a Honda decidiu se afastar do projeto F1, vinha procurando uma nova parceira que entregasse desempenho e tivesse expertise parecida, o que veio de encontro com as ambições da Ford, de olho nas novas tecnologias híbridas e no crescimento da categoria nos EUA.
Tanto que os trabalhos já começaram no desenvolvimento de um motor que terá um propulsor elétrico de 350kW. “A Ford está de volta ao topo do esporte, trazendo de volta sua tradição que engloba inovação, sustentabilidade e eletrificação para um dos palcos mais visados do mundo”, comentou o presidente executivo da marca, Bill Ford.
Enquanto a Ford não vem, a Red Bull segue em paz com a Honda em 2023.
“A experiência da Ford como montadora independente e na área de OEM (“Original Equipment Manufacturer”, em inglês, que significa uma empresa que cria produtos usando peças e partes provenientes de outras empresas), nos coloca em uma posição muito competitiva”, comenta Christian Horner.
“Uma marca com uma história como a Ford, de Jim Clark a Ayrton Senna e Michael Schumacher, não precisa de apresentação. Para a Red Bull Powertrains, abrir esse novo capítulo como Red Bull Ford é empolgante”, completou o chefe da Red Bull.
O CEO da Ford, Jim Farley, encerrou com uma frase muito interessante a conversa, mostrando que a Liberty Media, promotora da categoria, está no caminho certo: “A F1 se tornará uma plataforma com um custo/benefício incrível para inovação, novas ideias e tecnologias, podendo engajar milhões de novos clientes”.