A notícia, obviamente, não é boa. Porém a segunda desistência da Mercedes-Benz de produzir automóveis no Brasil, além de já esperada, tem algumas explicações menos evidentes. Tudo começou em meados dos anos 1990, quando o País decidiu responder aos estímulos oferecidos pela Argentina para atrair novos fabricantes. O real estava muito valorizado em relação ao dólar e, ainda assim, aqui se instalaram Renault, Toyota, Honda, Dodge, Mitsubishi, Audi (associada à VW) e Mercedes (a última, em abril de 1999). No entanto, a maxidesvalorização do real de cerca de 100%, no início de 1999, levou a indústria automobilística a sofrer redução drástica de vendas.
Dodge foi a primeira a parar (2002), seguida pela Mercedes (2005) e Audi (2006). Dólar alto, custos elevados (a marca da estrela de três pontas construiu fábrica exclusiva e usava muitas peças importadas), além de dimensões acanhadas levaram ao fim prematuro do monovolume compacto Classe A. Mas a instalação, em Juiz de Fora (MG), ainda montou o Classe C para exportação e hoje produz cabines de caminhão.
A segunda onda de incentivos começou com o Inovar-Auto, em 2012. O governo federal prometeu isentar e devolver o chamado superIPI aos fabricantes que se comprometessem a produzir no Brasil pelo menos 20.000 unidades anuais. BMW já tinha uma fábrica recém-inaugurada (2014) em Araquari (SC). Não acreditou na promessa e toca sua vida até hoje sem reclamar, além de liderar o mercado de modelos mais caros, chamados de premium, cujo conceito hoje me parece elástico demais.
Audi voltou a produzir (2015) em São José dos Pinhais (PR) e foi a que acumulou mais créditos (extraoficialmente, mais de R$ 200 milhões). Já com atividades fabris encerradas este ano, continua coberta de razão ao cobrar os créditos devidos. O governo reconhece, promete pagar e não cumpre.
Jaguar Land Rover inaugurou em 2016 uma fábrica pequena em Itatiaia (RJ). Publicamente não reclama de seus créditos, pois sempre se acautelou em relação a esse assunto.
A Mercedes-Benz construiu instalações novas, também em 2016, para 20.000 unidades anuais, em Iracemápolis (SP). A decisão de fechar a unidade deve-se a pelo menos três fatores: situação econômica do País e do mundo, vendas fracas aqui e decisão estratégica da matriz Daimler que acaba de alienar a fábrica Smart, na França, para enfrentar os elevados gastos de investimentos em novas tecnologias. O IPI não recuperado de R$ 70 milhões parece menos relevante, neste caso.
A Daimler, no entanto, decidiu construir em 2018 um grande campo de provas em Iracemápolis mesmo com os problemas à vista. E no ano passado anunciou que a Bosch entrou na sociedade com 50%, primeiro acordo desse tipo entre fábrica e fornecedor.
Por fim, o Brasil não está tão afastado assim do radar dos investimentos na indústria automobilística. Há fortes rumores de que a Hyundai desembolsará R$ 350 milhões até 2022 para iniciar fabricação de motores em Piracicaba (SP), onde produz o HB20, HB20S e Creta.
ALTA RODA
APESAR deste ano muito difícil e do dólar nas alturas as vendas de veículos importados demonstram resiliência. Em razão dos estoques de modelos com o real menos desvalorizado no início de 2020, a participação (incluídos modelos argentinos) de janeiro a novembro foi de 10,5% do total contra 10,7% em 2019. Tudo indica que viagens internacionais, em razão da pandemia, foram substituídas por um zero-km na garagem.
PRINCIPAL executivo do Grupo VW, Herbert Diess, recebeu voto de confiança do Conselho de Administração em meio a decisões difíceis que as grandes corporações devem tomar daqui para frente para redirecionar a produção e investir em carros conectados. Quem subiu na hierarquia foi Thomas Schmall, ex-presidente da VW do Brasil. Será responsável na diretoria por nova área de tecnologia.
SÉRGIO HABIB, que comanda as operações JAC Motors no Brasil, foi o primeiro executivo a prever que as vendas totais de veículos em 2021 vão se igualar às de 2019 (em torno de 2,7 milhões de unidades) numa recuperação em “V”. A marca chinesa aqui acaba de renovar sua linha de SUVs T40 Plus, T50 Plus e T60 Plus com mudanças estilísticas, teto solar, multimídia de 10 pol. e seis airbags para os dois últimos. Tudo de série.
INSTITUTO RENAULT comemora 10 anos com a edição de um livro para reportar suas atividades sociais em comunidades em que atua. O foco é oferecer oportunidades e novos caminhos para indivíduos e grupos. As ações atingiram um universo de 775.000 pessoas direta ou indiretamente.
INICIATIVAS surgem para purificação de ambientes pequenos e fechados como o interior de automóveis. SterBox é uma caixa compacta que utiliza tecnologia ultravioleta-C gerada por LED para neutralizar vírus, fungos e bactérias, segundo a fabricante O2led. Ligado a uma porta USB a purificação exige o carro de vidros fechados, parado ou em movimento, mesmo com pessoas a bordo. Tempo: 30 minutos a duas horas.
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