Se o ZR1 de 755 cv é realmente o último Corvette com motor dianteiro, é hora de guardar um de lembrança. Por Chris Chilton
Uma mudança se avizinha do esportivo favorito da América. Quase 60 anos depois da GM ter tido a ideia de colocar a cavalaria atrás da carroceria de plástico, o Corvette ainda opera com motor central. Ainda não; a novidade chegará no fim de 2019, o que significa que ainda há tempo de curtir uma última aparição de um Corvette com a arquitetura tradicional, com seu V8 à frente, atrás do eixo dianteiro, sob carroceria de plástico e com preço que deixa envergonhados os outros fabricantes – principalmente europeus – de superesportivos.
Conheça o ZR1, o mais rápido e potente Corvette de produção até hoje. Mas recomendamos cautela, pois as emoções são fortes.
Na verdade, em termos de Corvette, o ZR1 não é tão barato: ele custa nos EUA o equivalente a R$ 445 mil (sem impostos), comparados aos R$ 205 mil do C7, modelo de entrada da linha Corvette. Somando-se o valor dos impostos de importação, este preço pode ganhar vários zeros se projetados para o Brasil, o que o coloca no plano dos sonhos.
Mas para o mercado norte-americano, o melhor a fazer é calcular o que você ganha por este preço, e os fãs da Chevrolet certamente colocarão em primeiro lugar o fato dele ser 1.37 s mais rápido que um Ford GT no Autódromo Internacional de Virgínia, custando R$ 1,39 milhão a menos.
O spoiler dianteiro inferior em forma de foice é um dos motivos da GM não se esforçar para mandar o ZR1 para a Europa, onde a legislação de segurança de pedestres é bem mais rígida. E ele parece modesto quando comparado ao maior dos dois aerofólios traseiros disponíveis, que forma uma laje de fibra de carbono incluída no pacote ZTK, que traz também amortecedores magnéticos e molas mais rígidas.
Aquela asa impõe respeito a qualquer outro GT3 que se aproximar e aterroriza quem quiser usar o porta-malas. Assim como nos Corvette de corrida, o aerofólio é montado na carroceria, atrás da tampa, ao invés de sobre ela, fazendo da operação de carga e descarga algo próximo do impossível.
O interior contrasta bastante com os esportivos europeus bem mais refinados. A visibilidade frontal é dominada pela cobertura do compressor Eaton sob o capô. E se a bolha sobre o capô incomoda um pouco, qualquer sentimento ruim se dissipa quando você acelera o V8 6.2 l e seus 755 cv e 98,5 kgfm de torque. São 65 cv a mais que num GT2 RS, e 22,3 kgfm extras de torque. Apesar de carregar o mesmo codinome LT5 do motor de quatro comandos de válvulas desenvolvido pela Lotus para o ZR1 de 1989, a unidade atual tem quase o dobro da potência, fazendo deste o mais rápido Corvette de 0 a 100 km, precisando apenas de 2.85 s para atingir os 100 Km/h e 6.0 s para chegar aos 160 km/h. Máxima? 340 km/h com aerofólio de perfil baixo e um pouco menos com o grandão.
Não são muitos os carros que conseguem superar o ZR1, muito menos com este preço e enquanto você mesmo troca suas marchas. O ZR1 é o único esportivo em produção de alta potência que oferece tanto um câmbio manual de sete marchas, quanto um automático de oito. Tivemos a oportunidade de testar apenas a versão automática, que é a mais rápida, e com 755 cv é sempre bom ter as duas mãos livres para fazer coisas importantes, como se segurar, por exemplo.
Se você quiser fazer as trocas manuais através das borboletas, se decepcionará ao perceber o quão lento fica o câmbio. Deixe-o em Auto, regule o programa para deixá-lo mais esportivo através do seletor giratório e assim ele fica muito melhor. Mas longe de ser um PDK do GT2.
Dinamicamente o ZR1 é tão prático quanto o Porsche. Os freios standard de cerâmica têm mais sensibilidade linear que os do McLaren e a mesma eficiência, enquanto os pneus colossais – 285 na frente, 335 atrás, em rodas forjadas de 19 pol. – são difíceis de descolar do piso. Ótimo trabalho e necessário também, pois as coisas podem sair um pouco de controle acima dos limites dos Michelin Pilot Sport Cup que o equipam. O ZR1 é uma máquina que deve ser levada a sério.
E é também um carro com grandes habilidades. Os bancos são confortáveis e a ergonomia é perfeita. Apesar desta potência toda, é tão fácil de conduzir quanto qualquer Corvette e custa a metade do preço de seus similares europeus. O único carro que talvez o fizesse pensar é o Corvette Z06 de 650 cv, que custa R$ 290 mil.
Difícil de entender mesmo é essa catarse em torno do motor central, mas por enquanto o melhor é aproveitar os dotes maravilhosos deste americano que não dá bola aos europeus.
Chevrolet Corvette ZR1
> Preço nos EUA R$445 mil
> Motor V8 supercharged 6.162 cc 16V, 755 cv @ 6.300 rpm, 98,8 kgfm @ 4.400 rpm
> Transmissão 8 marchas automático, tração traseira
> Desempenho 0 a 100 km/h 2.85 s, 340 km/h, Consumo n/a, CO2/km n/a
> Peso 1.598 kg
> À venda Disponóivel nos EUA