Perda de patrocinador principal e prejuízos recentes fazem time considerar até vender toda a estrutura para um novo proprietário.
De protagonista a lanterninha nos últimos 15 anos, a Williams vem vivendo um drama sem precedentes na Fórmula 1, similar ao vivido pela Lotus no começo dos anos 90. Sem resultados decentes, perdendo seus melhores membros para equipes mais fortes e precisando de pilotos pagantes para sobreviver, o time de Frank Williams vive numa berlinda há anos (que teve um breve intervalo entre 2014 e 2017, quando teve uma chance de tentar decolar com Felipe Massa, Valtteri Bottas, os motores Mercedes e a grana da Martini).
De 2018 para cá, eles atingiram o fundo do poço. Mesmo com gente competente como Robert Kubica e George Russell no barco, sem contar a maravilhosa sede do time em Grove, na Inglaterra, a Williams sofre com carros mal projetados e pouco desenvolvidos por conta dos baixos investimentos. Em uma comparação grossa, a Williams se tornou a Minardi da nova década.
Se olharmos o grid atual, apenas a Williams é uma “garagista raiz” – até mesmo quando se associou a uma montadora, no início dos anos 2000 com a BMW, manteve o controle da operação. Entre as independentes, McLaren deixou de ser garagista há quase 40 anos e hoje é uma montadora de carros, enquanto Red Bull, Toro Rosso, Racing Point e Haas sobrevivem por terem marcas poderosas por trás; a Sauber, por sua vez, reveza entre ser garagista ou administrada por uma montadora – de 1993 para cá, teve parcerias com Mercedes, BMW e, agora, Alfa Romeo.
“Enquanto nenhuma decisão ainda foi feita, a companhia começa a considerar um ‘processo formal de venda.”
Com a crise gerada pelo coronavirus, a Williams já estava começando a considerar penhorar carros clássicos e históricos para manter sua sobrevivência e, nesta semana, um golpe muito duro pode ser fatal para a continuidade da operação: a ROKiT, sua principal patrocinadora, anunciou sua saída do time. Se em 2018 o time teve lucro de 12,9 milhões de libras (aproximadamente 80 milhões de reais), em 2019 o prejuízo foi de 13 milhões.
Por conta disso, o time se vê sem escolha: eles consideram de verdade uma venda parcial ou total da equipe com o objetivo de mantê-la viva. “A WGPH [Williams Grand Prix Holdings, que administra o time] está realizando uma revisão de todas as opções estratégicas disponíveis para a companhia. Entre essas opções estão inclusas (e não limitadas a isso) conquistar um novo capital vendendo uma pequena parte, uma parte grande ou até a companhia toda”, comentou o time em um comunicado.
“Enquanto nenhuma decisão ainda foi feita, a companhia começa a considerar um ‘processo formal de venda’. Não temos nada em vista neste momento, estamos em discussões preliminares com um pequeno número de possíveis investidores e não sabemos se receberemos uma oferta – pelo menos nos termos que esperamos. Teremos o direito de alterar ou encerrar discussões a qualquer momento”, completa. Um desses investidores é Michael Latifi, pai do atual piloto do time, Nicholas Latifi, que fez um empréstimo recente à escuderia.
A Williams revelou que a receita do Grupo caiu 16 milhões de livras de 2018 para cá, já sua receita na F1 caiu de 130 para 95,4 milhões de libras, com perdas de £ 10,1 milhões em comparação ao lucro de 16 milhões no ano anterior. E o time vê com muitos bons olhos a confirmação do novo limite de custos anunciado pela F1, que pode ser um bom chamariz para a equipe atrair investidores.
“Isso que estamos fazendo não é desespero. Acho que é a coisa certa e mais prudente a fazer. E a Williams, como uma família, sempre colocou sua equipe de F1 em primeiro lugar.”
A escuderia inglesa é um ótimo produto, apesar dos resultados abaixo da media. Ela tem história – o que por si só é um ótimo apelo – além de uma sere muito bem equipada e funcionários de primeira qualidade. E, mesmo considerando vender tudo, o time alega ser esta uma tentativa controlada para ver quais as opções que existem. E a Williams garante: tem orçamento para a temporada 2020.
“Isso que estamos fazendo não é desespero. Acho que é a coisa certa e mais prudente a fazer. E a Williams, como uma família, sempre colocou sua equipe de F1 em primeiro lugar. E acho que procurar investimento interno nesta situação está absolutamente alinhado com a filosofia que sempre tivemos de proteger o futuro da equipe e das pessoas que trabalham para nós”, comentou Claire Williams, filha de Frank, que é a pessoa forte da equipe atualmente.
Presente na F1 desde a temporada de 1972, mas estabelecida como equipe própria em 1977, a Williams tem uma história riquíssima que pode ser vista abaixo:
Títulos: 9
Largadas: 732
Vitórias: 113
Poles: 120
Voltas mais rápidas: 133
Pódios: 312
Primeiras filas: 272
Corridas lideradas: 225
Voltas na liderança: 7599
Pontos: 3561
Nada menos que 16 pilotos venceram pela equipe, com Nigel Mansell sendo o maior deles, com 28 triunfos, contra 21 de Hill e 11 de Alan Jones e Jacques Villeneuve. Único brasileiro nesta lista, Nelson Piquet está empatado com Alan Jones em sete vitórias. Também formam a lista Ralf Schumacher, Keke Rosberg, Riccardo Patrese, Juan Pablo Montoya, Carlos Reutemann, Thierry Boutsen, Clay Regazzoni, David Coulthard, Heinz-Harald Frentzen e Pastor Maldonado.
“Estamos alinhados com a filosofia que sempre tivemos de proteger o futuro da equipe e das pessoas que trabalham para nós.”
Com os brasileiros, a história da Williams é de amor e ódio (para os fanáticos tupiniquins). Começou com amor pelo tricampeonato de Nelson Piquet, mas virou ódio quando Ayrton Senna morreu – desde então, o time carrega o símbolo de Senna no bico de seu carro até os dias de hoje. Passado um tempo, o amor voltou, com Rubens Barrichello, Bruno Senna, Antonio Pizzonia e Felipe Massa – na passagem mais marcante até que a de Piquet – representando as cores da escuderia nos últimos anos. E não podemos esquecer de José Carlos Pace, que fez suas primeiras provas chefiado por Frank Williams em um carro terceirizado.
Que uma história tão linda como essa tenha um final feliz. Ou não tenha final, continue existindo fisicamente – pois, no coração dos fãs, ela nunca vai acabar.